domingo, 20 de dezembro de 2009

sábado, 12 de dezembro de 2009

Futuro do Pretérito

Minha avó morreu muito cedo. Minha mãe acha que foi de tristeza. Meu avô era alcólatra. Precisa dizer mais?
Ela dizia que um dia iria fugir para bem longe, que trabalharia num hospital, ajudaria pessoas e de presente compraria uma linda anágua para minha mãe.
Anágua é aquela sainha de pôr por baixo, aquele tule, sabe?
Fiquei sabendo disso tudo num café da tarde, num papo a toa..
O engraçado que trabalho num hospital, e me vejo querendo ir para bem longe quando a dor aperta.
Fico pensando quantos anos, ou quantas gerações, levamos para termos recursos suficiente para realizar um grande sonho. Esse sonho que não parece, mas é construído mesmo sem saber de forma coletiva..
Fiquei com uma baita vontade de comprar uma anágua para minha mãe..





Te conheço há 16 anos.
Final de semana passado você foi viajar sozinha. Fez seu jantar, escutou música, tomou banho de mar. Parece ter se divertido tanto..!
Quantas vezes brigamos por isso.
Você tentando me ensinar que viver é compartilhando ..
E eu te ensinar a sentir a vida na solitude..
Tenho aprendido tanto a fazer compras em companhia, trabalhar junto, acordar junto..
Estou me divertindo muito também...
Te amo, Querida Amiga!

Trechos Inéditos



Estava eu na Av. Paulista, entre tantos, encostada numa banca de jornal em frente a Gazeta, esperando pelo ônibus.
No começo um furor me tomava o corpo. Era o início de uma retomada.
Estava de trabalho novo, e-mail, cartão de visita, me apresentando formalmente.
A Av. vislumbra um horizonte tão comprido, que ela por si só parece um mundo inteiro.Arquitetônico Horizonte.
O trabalho me tomava o tempo e me colocava minha vida adulta, nas minhas mãos.
Na terapia dizia querer lançar o barco, sem coleta salva-vidas.
Como de praxe me desfazer, de modo eloquente, de tudo que havia ministralmente construído.
Queria me lançar por inteira. Arriscando uma nova vida em Sampa.
Não queria tomar aquele ônibus e voltar para casa.
A ânsia me tomava. Queria de qualquer maneira me desfazer do cotidiano interiorano.
Era como se eu pudesse nascer de novo, em vida.
Ficava analisando aquela situação e algo parecia estar soando tão errado.
O erro era eu. Era a maneira como eu encarava aquilo.
Aquela sensação me inundou tanto que pedi demissão. Ninguém entendeu nada.
Como? Estamos gostando de você aqui.
Justifiquei que meus sólidos ideiais não podiam se dissipar.
Se São Paulo não podia ser minha, eu não seria de São Paulo.
A liberdade em mim falou tão mais alto.
Me desfiz da oportunidade de manter e lidar com a frustação.
Era só esperar mais um pouco e ir fazendo a curva. Sem 90 graus.
Tinha que me desfazer de algo..
Errei o alvo.
Era a pressa que tinha que ter ido embora.
Não eu.
Não a oportunidade de criar e ir me sustentando.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Neurônose

Que momento é esse que se foi
e que paira em mim vivo
cortando-me a carne.

Esse regojizo podre
e essa tentativa infâme de me esconder num culpado
numa eterna controle de todas as variáveis.

Eu não quis assim.
não pude, não soube.

Numa calma derradeira
sereno tempo
serena brisa
sereno sono..
Me teletransporta
Rouba de mim esse pedaço de passado.
Me derruba se for preciso..

Quero sentir o doce nessa língua inchada
Quero refletir uma cor alegre nessa pele branca..

Quero o sol do verão
para filosofar sobre qualquer bobagem
e rolar sob a areia de uma praia desconhecida.

domingo, 22 de novembro de 2009

Vermelho




Seus olhos  nos olhos
Rubro

com o osso rubro desconcerta a pálida trama
espera acender o fogo
o fogo da chama
encontra o fio que divide o ser em dor e em face
cuida da carne, súbito acompanha...
e espera a face pedir-lhe o passe
e com as mãos leva a cama
afaga a doçura e junta as partes
distante e quente, machuca com prana.
Ana Lima
Nascer

Sou um manancial de águas
navegando pela vida.

Uma estrela cadente,
correndo aos céus,
cicatrizando uma só ferida.

Sou uma gota de mel
feita de flores,


                    á margem
                    e a deriva.


Sou um pincel
domando a face
d´uma barriga.
Ana Lima

sábado, 21 de novembro de 2009



mobiliando o silêncio
com aquários vazios


vê-se inexistente
uma cor na parede


o que se vê
é um pássaro com sede


de poleiro em poleiro
fazendo voar a gaiola

Rodrigo Souza Leão - 2009